Abro
minha janela e observo...
O sol
interrompe o foco do meu olhar por segundos
Recupero
minha visão
Que se
torna cada vez mais crítica
Todas
manhãs
A mesma
novela
Sim,
são os mesmos personagens
Que estão
lá fora
De vez
em quando uma alteração do traje
Deve ser
erro do continuísta
Ou ação
intencional
Para tornar
a rotina menos dolorosa
Os movimentos
são milimetricamente ensaiados
Sincronismo
invejável
O balé
urbano do dia a dia continua
O ponto
do ônibus é o ponto de encontro dos mesmos
Alguns são
tão ousados
Que fingem
não conhecer quem está em volta
Até mesmo
eu
Que estou
na janela os conheço...
Outros mais
sociais
Aproveitam
a espera para descontrair
E contrair
uma amizade a mais
O tempo
passa
O balé
do embarque e desembarque continua
Saltam trabalhadores
Embarcam
trabalhadores
Não importa
a direção
O destino
é um só
O trabalho
A rotina
é tão densa
Exaustiva
em sua mesmice
Que me
arrisco a dizer
Que não
me surpreenderia
Caso algum
bailarino desses
Decidisse
completa-la de olhos fechados
O que
me intriga
Incomoda,
irrita
É sua
aparente tranquilidade
Sua aceitação
Como se
não houvesse alternativa
Como se
o destino fosse único
Nesse mesmo
instante me recomponho
Respiro
fundo
Afinal a
decisão é de cada um
Eu decidi
desenhar meu destino
Aos poucos
e à mão
Para ter
certeza
Que nenhum
traço
Jamais seria
igual ao outro
E garantir
Que cada
passo do meu balé
Seria novo
e único
Vivian Kosta
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