segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Balé Urbano


Abro minha janela e observo...

O sol interrompe o foco do meu olhar por segundos

Recupero minha visão

Que se torna cada vez mais crítica

 

Todas manhãs

A mesma novela

Sim, são os mesmos personagens

Que estão lá fora

 

De vez em quando uma alteração do traje

Deve ser erro do continuísta

Ou ação intencional

Para tornar a rotina menos dolorosa

 

Os movimentos são milimetricamente ensaiados

Sincronismo invejável

O balé urbano do dia a dia continua

 

O ponto do ônibus é o ponto de encontro dos mesmos

Alguns são tão ousados

Que fingem não conhecer quem está em volta

Até mesmo eu

Que estou na janela os conheço...

 

Outros mais sociais

Aproveitam a espera para descontrair

E contrair uma amizade a mais

 

O tempo passa

O balé do embarque e desembarque continua

Saltam trabalhadores

Embarcam trabalhadores

Não importa a direção

O destino é um só

O trabalho

 

A rotina é tão densa

Exaustiva em sua mesmice

Que me arrisco a dizer

Que não me surpreenderia

Caso algum bailarino desses

Decidisse completa-la de olhos fechados

 

O que me intriga

Incomoda, irrita

É sua aparente tranquilidade

Sua aceitação

Como se não houvesse alternativa

Como se o destino fosse único

 

Nesse mesmo instante me recomponho

Respiro fundo

Afinal a decisão é de cada um

 

Eu decidi desenhar meu destino

Aos poucos e à mão

Para ter certeza

Que nenhum traço

Jamais seria igual ao outro

E garantir

Que cada passo do meu balé

Seria novo e único

 

Vivian Kosta

 

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